Oncologia comparativa: Como a medicina veterinária oncológica pode avançar a pesquisa do câncer em humanos.

O campo da oncologia comparativa surge como uma interseção fascinante entre a medicina veterinária e a medicina humana, oferecendo uma perspectiva valiosa para o avanço da pesquisa em câncer. Embora a principal preocupação da oncologia veterinária seja a saúde dos nossos animais de estimação e de outras espécies, o estudo das neoplasias em animais pode ter impactos significativos na compreensão e no tratamento do câncer em seres humanos. Veja alguns exemplos abaixo de como a abordagem comparativa está transformando a pesquisa oncológica e trazendo benefícios mútuos para ambos os campos.

O que é oncologia comparativa?

A oncologia comparativa é uma subdisciplina que investiga as semelhanças e diferenças entre os cânceres que afetam diversas espécies, incluindo humanos e animais. Essa área de estudo reconhece que muitas características biológicas e patológicas do câncer são conservadas entre espécies, o que significa que os conhecimentos adquiridos em uma espécie podem ser aplicados a outras. A ideia central é que ao entender como o câncer se comporta em diferentes contextos biológicos, podemos melhorar o diagnóstico, o tratamento e, potencialmente, a prevenção em todas as espécies envolvida.

Benefícios da pesquisa na oncologia veterinária para humanos

Modelos naturais de câncer: Animais, especialmente cães e gatos, desenvolvem muitos dos mesmos tipos de câncer que afetam os humanos, como linfoma, melanoma e câncer de mama. Esses modelos naturais oferecem oportunidades únicas para estudar a progressão da doença e testar novas terapias em um ambiente que imita a complexidade biológica dos tumores em humanos.

    Tratamentos inovadores: A medicina veterinária frequentemente lida com tumores em estágios avançados, proporcionando uma plataforma para testar tratamentos emergentes e estratégias de manejo. As descobertas bem-sucedidas em animais podem ser adaptadas e implementadas na medicina humana, acelerando o desenvolvimento de novas terapias e intervenções. É importante lembrar que tratamentos bem sucedidos pela medicina humana também foram base de estudo  para medicina veterinária como a eletroquimioterapia,por exemplo.

    Estudos genéticos e moleculares: As semelhanças genéticas entre humanos e animais podem ser exploradas para entender melhor as alterações genéticas associadas ao câncer. Pesquisa em câncer veterinário pode revelar novos alvos terapêuticos e biomarcadores, que são úteis tanto para diagnósticos quanto para tratamentos personalizados em humanos.

    Ensaios clínicos e terapias translacionais: Muitos tratamentos experimentais são inicialmente testados em animais devido à sua similaridade com os tumores humanos. Ensaios clínicos em veterinária podem fornecer informações valiosas sobre a eficácia e segurança de novas terapias antes que elas sejam introduzidas em ensaios clínicos humanos.

    Casos de sucesso

    Vários avanços notáveis na pesquisa oncológica foram possibilitados por estudos comparativos. Por exemplo, o tratamento com inibidores de checkpoint imunológico, uma das abordagens mais promissoras na imunoterapia contra o câncer, tem raízes em estudos com câncer em cães. Da mesma forma, a pesquisa em câncer de mama canino tem contribuído para uma melhor compreensão dos mecanismos que regulam o crescimento tumoral em humanos.

    Conclusão

    A oncologia comparativa representa uma fronteira emocionante e promissora na luta contra o câncer. Ao aproveitar os modelos naturais e as descobertas da medicina veterinária, podemos obter informações valiosas que beneficiam tanto os animais quanto os humanos. O futuro da pesquisa oncológica é, sem dúvida, mais brilhante com a integração dessas duas áreas, e a esperança é que, com o tempo, isso se traduza em novos tratamentos e, eventualmente, em curas para essa doença devastadora.

    Referências 

    Vail, D. M., & MacEwen, E. G. (2000). “Translational Research in Veterinary Oncology: A Collaborative Approach to Cancer Research.” Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice, 30(5), 991-1010.

    Khanna, C., & Liptak, J. M. (2008). “The Role of the Veterinary Oncologist in Comparative Oncology: Lessons Learned.” Journal of Veterinary Internal Medicine, 22(4), 781-785.

    Kumar, R., & Johnson, J. (2015). “Comparative Oncology: Advances in Translational Cancer Research.” Frontiers in Oncology, 5, 23.

    Norris, A. M., & Rassnick, K. M. (2016). “Canine Cancer Models for Human Clinical Trials: A Review of Clinical and Translational Research.” Veterinary and Comparative Oncology, 14(4), 322-333.

    Lerner, S. P., & Schlegel, R. (2017). “The Impact of Comparative Oncology on Human Cancer Research and Therapy.” Journal of Comparative Oncology, 10(2), 101-115.

    Withrow, S. J., & MacEwen, E. G. (2007). Small Animal Clinical Oncology. 3rd Edition. Saunders.
    Gordon, I. J., & Prat, F. (2018). “Immunotherapy in Comparative Oncology: Current Perspectives and Future Directions.” Journal of Immunotherapy, 41(6), 289-298.